OBSTÁCULOS AO CRESCIMENTO ESPIRITUAL

Por Alan Capriles

Em nossa jornada espiritual há muitos obstáculos a se vencer. Geralmente são entraves muito sutis, dos quais não nos damos conta. O problema é que quando isso acontece ficamos espiritualmente estagnados, sem qualquer avanço significativo, presos a conceitos errôneos e preconceitos malignos. Sendo assim, a identificação de tais obstáculos é determinante para que haja progresso e amadurecimento espiritual.

Compartilho a seguir alguns obstáculos que identifiquei em minha própria jornada e com os quais me deparo constantemente. Abaixo de cada um deles escrevi entre aspas o pensamento errôneo que o acompanha e depois o meu próprio comentário a respeito. Espero que isso ajude cada leitor a identificar seus próprios obstáculos, o que ocorrerá somente se o texto for lido de forma introspectiva e numa sincera autoanálise.

Ilusão da quantidade
“Há séculos que tantas pessoas pensam assim... é impossível que estejam erradas.” 
A ilusão da quantidade, seja de tempo ou de pessoas, é mesmo atraente. Ela proporciona uma sensação de segurança, como se milhões de pessoas não pudessem estar equivocadas por tanto tempo. Mas a história comprova que bilhões podem estar enganadas e que muitas vezes o erro perdura por séculos, tal como ocorreu na idade média, chamada também de idade das trevas. Porém, que ninguém se engane: ainda há densas trevas de ignorância em nosso próprio tempo.

Comodismo
“Tudo está tão bem assim... pra que mudar?”
A verdade é que não está tudo tão bem assim. Especialmente no que diz respeito à religião.

Orgulho
“Assumir que eu estava errado por todos esses anos? Nem pensar!”
Sem dúvida, o maior dos obstáculos.

Preguiça
“Prefiro acreditar no que os eruditos já disseram... Pesquisar dá muito trabalho!”
E assim a crença acaba sendo apenas uma questão de escolha e não o resultado de uma boa investigação. Eu acrescentaria ainda que essa preguiça de se averiguar os fatos muitas vezes esconde uma indisposição de se gastar dinheiro com a compra de livros. Uma vez que muitas informações não estão disponíveis na internet, torna-se necessário que compremos bons livros para se completar um estudo bem feito. Eu mesmo passo horas vasculhando livrarias e sebos em busca de determinados títulos. E ainda que somente uma frase se aproveite daquele livro comprado, não importa! Se essa frase contribuir para o meu amadurecimento espiritual, eis um preço muito baixo para um benefício tão nobre.

Medo da solidão
“Se eu pensar diferente todos os meus amigos se afastarão de mim.”
Eis a oportunidade para se descobrir quem são seus verdadeiros amigos! [1]

Tribalismo
“Somente nosso grupo está certo em tudo. Os outros nada têm a nos ensinar.”
E naquele outro grupo há pessoas dizendo exatamente a mesma coisa! Mas que tolice...

Preconceito
“Se ele fosse rico ou diplomado talvez eu lhe desse alguma atenção” ou ainda: “Já tenho opinião formada sobre esse indivíduo, por isso não me interessa o que ele diz.”
Nossos métodos de avaliação são enganosos. Algumas das mentes mais brilhantes da história não se saíram bem na escola, assim como muitos não foram famosos em sua época, sendo reconhecidos somente nas gerações posteriores. Se não quisermos cometer o mesmo erro devemos nos manter abertos, ou seja, procurando aprender algo de valioso com todo tipo de pessoa. Todo tipo mesmo! Você pode até não gostar de alguém, mas que isso não lhe impeça de ouvir o que ele tem a dizer.[2]

Presunção
“Já sei tudo sobre o assunto. Não há mais nada que eu precise saber.”
Assim dizem os tolos. O sábio diria: “Quanto mais sei, mais descubro que nada sei.”

Tradição
“Não posso trair a crença de meus ancestrais.”
Abandonar uma antiga crença familiar não é uma traição. Por outro lado, perpetuar um erro não somente é trair sua geração, bem como aquelas que ainda estão por vir.

Vergonha
“Tenho vergonha de perguntar e parecer um idiota. Prefiro ficar calado e fingir que entendi.”
Idiotice é agir assim. Não há nada de vergonhoso em se fazer perguntas, pois ninguém já nasce sabendo. Geralmente os alunos que mais fazem perguntas são os que tiram as melhores notas.

Precipitação
“Isso era tudo que eu sempre esperava ouvir. Vou mergulhar de cabeça nessa nova revelação!”
Cuidado! Esse pode ser um mergulho suicida. Meu conselho é que você jamais se precipite em abraçar uma nova ideia ou conceito, mas que pesquise bastante primeiro. Uma tese não é necessariamente certa apenas porque contraria o que está errado. O fato de algo estar publicado na internet não o torna mais digno de confiança do que as palavras de um estranho. Verifique as fontes, o contexto de cada versículo e, principalmente, ouça o que o outro lado tem a dizer. Ele pode ou não estar certo. De uma forma ou de outra, seja cauteloso, evitando a precipitação.

Rotulação 
“Agora que não faço mais parte desse ‘ismo’ preciso filiar-me a um ‘ismo’ diferente.”
Não, você não precisa fazer isso! Assumir um rótulo significa prender-se aos ditames a ele relacionados, o que bloqueia nossa liberdade de pensamento e, consequentemente, nosso crescimento espiritual. Ainda que você se identifique com determinado grupo isso não significa que você tenha que se rotular como pertencente a ele. Seja livre! Lembre-se que ao colocar um rótulo você não apenas estará concordando com os acertos de uma instituição, mas também sendo conivente com seus erros. Além do mais, rótulos dividem as pessoas, ocasionando desavenças absolutamente desnecessárias. Não caia nessa armadilha.[3]

Idolatria
“Esse mestre mudou minha vida. Ele é extraordinário! Seguirei tudo o que ele ensinar.”
A mesma pessoa que disse algo verdadeiro e abençoador poderá também dizer algo equivocado e maléfico. Muito cuidado com isso! Seguir alguém cegamente é uma das piores formas de idolatria. Não siga pessoas, siga a verdade em amor. Sendo assim, analise bem tudo o que for ensinado, rejeitando aquilo que não prestar e retendo apenas o que for proveitoso. No entanto, em seu ato de discernimento, julgue as ideias e não as pessoas. Todos nós somos passíveis de cometer erros, inclusive eu, você e aquela personalidade mais prestigiada do momento.

Cheguei ao final da minha lista, a qual não tem a pretensão de ser exaustiva. Possivelmente há outros obstáculos que não consegui ainda identificar, mas estou certo de que esses já nos podem servir de alerta em nossa jornada. Particularmente, o reconhecimento dos enganos que revelei acima proporcionou para mim uma grande libertação. Não obstante, confesso que ainda tenho que enfrentá-los diariamente, precisando manter-me vigilante para não cair nessas ciladas do mundo e da alma. Mas o exercício da vigilância é um leve fardo, que prazerosamente carregarei por toda minha vida. E assim espero que seja também para você.

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Notas:


[2] Confira “Sobre mestres e gurus”.

[3] Para ser um seguidor de Cristo você não precisa necessariamente se rotular de cristão, ou se dizer adepto do catolicismo ou do protestantismo. Uma coisa é ser discípulo do Cristo, que nunca nos ordenou tal rotulação, e outra é ser discípulo do cristianismo, que criou seus rótulos e dogmas. Para uma melhor compreensão, sugiro que o leitor confira o texto “Discípulos de Cristo ou discípulos de cristianismo” e ouça também a mensagem que preguei a respeito do mesmo assunto clicando aqui.

Alan Capriles

Comentários

Regina Farias disse…
O que acho interessante nesse texto é que tudo aqui explanado de forma didática, se refere a experiências pessoais, como bem pontuado. Isso é o que dá mais veracidade ao teor e torna o texto rico e genuíno. E proveitoso, principalmente! Porque, somente a partir de uma constante avaliação conscienciosa dos próprios conceitos e valores é que se vai livrando-se desses vícios terríveis aqui enumerados, e que provocam a estagnação e o engessamento na alma.
Valeu. Amei!
Alan Capriles disse…
Oi, Regina!

Fico feliz que tenha gostado. De fato, cometi cada um dos erros acima e ainda preciso lutar contra alguns desses entraves, que como você muito bem salientou, "provocam estagnação e engessamento da alma." Que Deus nos ajude!

:)