25 fevereiro 2010

AS 12 RAZÕES PARA ELIMINAR O ENTRETENIMENTO EM SUA IGREJA

Um alerta solene aos pastores

 
Por Alan Capriles

O entretenimento está tão enraizado na cultura evangélica brasileira que parecerá um absurdo a tese que defendo. No entanto, esse não é um problema novo e nem exclusivamente nosso. Já na segunda metade do século 19, em seu famoso artigo "Apascentando ovelhas ou entretendo bodes?" o pastor inglês Charles Haddon Spurgeon, alertava que o fermento diabólico do entretenimento acabaria levedando toda a massa do evangelho.[1] E é nesse lastimável estado de fermentação que se encontra a massa evangélica atual - não somente no Brasil, mas em praticamente todo o mundo.

Hoje em dia é quase impossível que uma igreja não tenha conjuntos musicais, corais, grupos de coreografia, ou cantores para se apresentar durante o culto. Não estou dizendo que seja errado se divertir de vez em quando, ou que seja pecado cantar e dançar. Particularmente, valorizo muito meus momentos de descontração, pois sei o quanto isso me faz bem. No entanto, é de consenso geral que tudo deve ter sua hora e seu apropriado lugar. A despeito disso, vemos na maioria das igrejas o precioso tempo do culto, que deveria ser usado para edificação, ser tomado por todo tipo de apresentações, com a desculpa de que "é tudo pra Jesus". Apenas esqueceram de perguntar-lhe se ele deseja tal coisa... Mas, ironias à parte, a realidade é que tais apresentações não passam de entretenimento vão, que em nada edificam, mas que vem acrescidas de um verniz de santidade, ou capa de religiosidade, para que sejam chamadas de obra de Deus.[2]

Por favor, que ninguém fique ofendido, pois também expresso aqui um mea culpa. Houve época em que também eu desperdiçava horas com ensaios de conjuntos e coreografias, enganando a mim mesmo e convencendo também aos outros de que esse ativismo todo podia ser chamado de obra de Deus. Mas a verdade é que eu sempre senti que havia algo de errado - que não era nisso que deveríamos estar focados - e isso fazia com que eu me sentisse um traidor. Como não havia quem me alertasse, foi por meio de minha própria meditação nos evangelhos que tive meus olhos abertos e fui convencido de meu erro.

Desde então tenho refletido seriamente a respeito disso, percebendo o quanto temos deixado de crescer com nossas distrações pueris e o quanto isso tem prejudicado a propagação do verdadeiro evangelho. Consegui encontrar mais de uma dezena de boas razões para eliminar por completo o entretenimento dos cultos na igreja que pastoreio - algo que logo fizemos! Passamos então a investir melhor nosso tempo, substituindo as horas que antes gastávamos com ensaios entre quatro paredes por evangelização na comunidade, encontros de edificação nos lares e pela realização de projetos sociais relevantes.[3] E, quanto às apresentações nos cultos... sinceramente, não estão fazendo a menor falta.

Sendo assim, compartilho pelo menos 12 razões que nos fizeram eliminar o entretenimento dos cultos que realizamos - lembrando que nossa resolução, aparentemente radical, só nos trouxe benefícios, tanto a nível individual, quanto coletivo.

1 - Não encontramos qualquer incentivo de Cristo ao entretenimento em seu nome
Para os que realmente querem seguir os ensinamentos de Cristo, somente esta razão já seria suficiente e não precisaríamos de qualquer outro argumento. O problema é que raramente se encontra hoje uma igreja que queira levar a sério o que Jesus ensinou. Sendo assim, talvez seja necessário ainda os argumentos a seguir.

2 - Entretenimento não atrai ovelhas
Particularmente, não gosto de rótulos. Mas, a título de melhor compreensão, chamemos de ovelhas aqueles que realmente amam a Jesus e buscam seguir seus ensinamentos (Jo 10:27). Esse argumento interessa principalmente a pastores que buscam atrair pessoas já convertidas para suas igrejas - o que não é necessariamente errado, pois há crentes que mudam de cidade e precisam encontrar uma boa igreja para congregar. Ora, dificilmente a realização de shows na igreja atrairá cristãos fiéis, aqueles que realmente estão interessados em crescimento espiritual. Por outro lado, as apresentações no culto serão um atrativo para os que gostam de uma distração gratuita. Mas, será que podemos chamar esses crentes de ovelhas, ou, como sugeriu Spurgeon, não seria melhor identificá-los como bodes, uma vez que só buscam entretenimento? (Mt 25:32-33)

3 - Entretenimento afasta as ovelhas
As verdadeiras ovelhas não se satisfazem com apresentações durante o culto. Elas querem oração e palavra, edificação e unção. Uma ovelha de Cristo não procura emoções, mas a Verdade, a fim de que se mantenha firme no caminho da vida e na propagação do reino (Jo 6:67). Quanto mais o pastor encher o culto com apresentações, mais rapidamente as verdadeiras ovelhas irão debandar, em busca de uma igreja mais fiel, que priorize a oração e o ensino da Palavra. Aos poucos, a "igreja-show" deixará de ter ovelhas para estar ainda mais cheia, porém de bodes, que gostam de uma boa distração. E, infelizmente, o que muitos pastores buscam hoje é somente quantidade - o crescimento a qualquer custo. E, com este fermento, a massa realmente cresce...

4 - Entretenimento reduz o tempo de oração e palavra
O tempo de culto já é muito limitado, chegando a ter, no máximo, duas horas. Quando se dá oportunidade para apresentações, o tempo que deveria ser usado para oração e ensino torna-se curtíssimo. Em algumas igrejas o momento reservado para a Palavra não chega nem a vinte minutos por culto! Como desenvolver uma mensagem expositiva, que realmente alimente as ovelhas, em tão curto espaço de tempo?

5 - Entretenimento confunde os visitantes
Os visitantes de uma igreja de entretenimento concluirão que ela existe em função disto: de criar conjuntos, corais, coreografias, peças teatrais, ou qualquer outro tipo de apresentação que torne o culto divertido. E eles passarão a frequentar os cultos com esta expectativa, esperando pelo próximo espetáculo e não para se desenvolver espiritualmente.

6 - Entretenimento ilude os membros
É normal que os membros das igrejas voltadas para o entretenimento pensem que estão servindo a Deus com suas apresentações. Desta forma, sua consciência fica cauterizada para atender aos apelos  para participar da escola bíblica, do evangelismo, ou dos projetos de assistência social. Afinal de contas, o membro pensa que seu chamado é para um palco (ao qual chama de altar), e não para serviços que não lhe colocam debaixo de holofotes - os quais são muito comuns nas igrejas hoje em dia.

7 - Entretenimento é um desgaste desnecessário
Quanto esforço é despendido para que tudo saia perfeito: o passo de dança, a afinação do coral, a fala decorada... Tanta energia gasta naquilo que o Senhor nunca mandou fazer! Será que ainda restarão forças e tempo para se fazer o que realmente Cristo nos ordentou fazer? (Lc 6:46; Mt 25:31-46)

8 - Entretenimento coloca os carnais em destaque
Pessoas que raramente aparecem nos cultos de oração e estudo bíblico, e que nunca comparecem ao evangelismo, geralmente são as mesmas que gostam de aparecer cantando, dançando ou representando nos cultos mais cheios. A questão é: Por que dar prioridade e destaque justamente para esses membros que desprezam o próprio crescimento espiritual?

9 - Entretenimento promove disputas
Disputas entre membros, entre conjuntos e até entre igrejas. Quem canta melhor? Quem dança melhor? Que conjunto tem o uniforme mais bonito? Quem recebeu mais oportunidade? (1 Co 3:3; Tg 4:1)

10 - Entretenimento alimenta o ego
O entretenimento não gera fé, mas fortalece o ego dos que amam receber aplausos e elogios. Apesar de sua roupagem "gospel", o fermento dos fariseus continua tão venenoso quanto nos dias de Jesus (Mt 23:5-6; Lc 12:1)

11 - Entretenimento é um desperdício de tempo
Alguém já disse que "a mais lamentável de todas as perdas é a perda do tempo." Se o mesmo tempo que as igrejas gastam com ensaios e apresentações fosse utilizado com oração e evangelismo, este mundo já teria sido alcançado pela graça de Deus! (Ef 5:15-17)

12 - Entretenimento não é fazer a obra de Deus
A desculpa para o entretenimento é que este seria uma forma estratégica de atrair as pessoas. Mas a questão novamente é: que tipo de pessoas? Se entretenimento fosse uma boa alternativa, certamente a igreja apostólica teria usado de entretenimento para atrair as multidões. No entanto, os apóstolos simplesmente pregavam o evangelho, porque sabiam que nele há poder. O evangelho "é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê" (Rm 1:16). Mas o entretenimento... O entretenimento é a artimanha do homem para a perdição de todo aquele que se distrai.

Devo concluir com uma palavra direta aos pastores. De pastor para pastor. Amado colega de ministério, não duvide do poder do evangelho para atrair e converter as pessoas. Não queira encher sua igreja com atividades vazias e atraentes ao mundo, mas que não têm o poder do Espírito Santo para converter vidas. Tenha coragem e limpe sua congregação desta imundície egocêntrica. Igreja não é circo, nem clube. Talvez, com tal atitude, você perderá alguns membros - mas, lembre-se: não perderá ovelhas, somente bodes. Tenha fé em Deus e confie no modelo bíblico para o crescimento saudável da igreja, modelo que é pautado na oração, nas boas obras e na pregação ousada do genuíno evangelho de Cristo. Lembre-se também disto: "enquanto os homens procuram melhores métodos, Deus procura melhores homens." Seja você esse homem.

Alan Capriles
(Atualizado em Set/2014)

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Notas

[1]  Confira o alerta de Spurgeon clicando aqui.

[2] Promover a mútua edificação deve ser o propósito de toda reunião cristã (1Co 14:26)

[3] Isso não significa que nossa igreja não tenha atividades divertidas, ou momentos de lazer em comunhão. Significa somente que não usamos mais o tempo do culto para tais atividades, que são importantes, mas não a ponto de permitirmos que roubem o tempo devido a oração e a palavra.

03 fevereiro 2010

EVENTO OU... É VENTO?

Por Alan Capriles

São Gonçalo, município do estado do Rio de Janeiro, é considerado por muitos como a cidade brasileira com o maior número de igrejas por metro quadrado. São tantas as diferentes denominações (e algumas demoniações) que não é raro encontrarmos uma igreja em frente da outra, ou mesmo ao lado, compartilhando da mesma parede, mas disputando decibéis e membros infiéis.

Por ser assim tão grande o número de congregações, vejo São Gonçalo como uma espécie de proveta, um tubo de ensaio do que deve ou deverá acontecer em breve por todo território nacional. Ora, as estatísticas apontam que o crescimento do número de igrejas evangélicas no Brasil é um fenômeno colossal, a ponto de despertar a curiosidade dos mais renomados estudiosos acerca do assunto. Desta forma, em pouco tempo haverá tantas igrejas pelo país quanto bares nas esquinas, coisa que já acontece em São Gonçalo.

A princípio, parece ótimo. Mas, observe: haverá "tantas quanto", e não "tantas no lugar de", ou seja, os bares continuam lá, porque o que está acontecendo em São Gonçalo e em todo território brasileiro não é um avivamento. Todos sabemos que um genuníno avivamento é caracterizado pelo impacto causado na sociedade. Por exemplo, conta-se que certo viajante atravessava uma cidade da Nova Inglaterra e perguntou a um morador onde poderia encontrar um bar para beber e se descontrair. O morador respondeu: "não há mais bares em nossa cidade, porque há 100 anos atrás John Wesley andou pregando por aqui." Aquela cidade sim, havia experimentado um verdadeiro avivamento.

E o que acontecerá no país quando houver tantas igrejas quanto bares?

A resposta é: o que já está acontecendo em São Gonçalo! As igrejas disputando membros, assim como os bares disputam a clientela.

Obviamente, esta disputa acontece de maneira velada, discreta. E de que forma ela acontece? Aqui em São Gonçalo, tubo de ensaio do evangelicalismo nacional, uma igreja é avaliada pela popularidade e quantidade de seus eventos. Uma igreja é avaliada entre o povo e, principalmente, entre os crentes pelo número de Festivais, Congressos, Louvorzões, Vigílias (que de oração não tem é nada) entre muitas outras formas de entretenimento.

Tais eventos precisam ter uma leve maquiagem cristã, como um versículo bíblico no cartaz, para não transparecer suas reais intenções: atrair os membros de outras igrejas. E, claro que não são atraídos pelo versículo, mas pelo cantor ou pregador famoso que lá estará. A presença deste é garantida pelo pagamento de um alto cachê, geralmente com adiantamento, coisa que só igreja grande pode fazer.

Mas, e as outras, que não podem pagar? Há duas alternativas. Colocam seus membros para vender os cds do cantor semanas antes do evento (e nisto há duas infrações: trabalho escravo e sonegação de impostos) ou então criam formas alternativas de arrecadar dinheiro. Por exemplo, conheço um pastor que convenceu os jovens a vender alho no sinal de trânsito, durante mais de um mês, a fim de pagar o cachê da cantora Pâmela, que iria se apresentar no Congresso de jovens.

Outra forma de garantir a presença de membros de outras igrejas é a tal da "oportunidade". Envia-se a carta convite, encaminhada ao líder do ministério que se pretende dar a oportunidade. Sendo assim, tal ministério precisa ter um conjunto bem ensaiado, porque, ao atender o convite, eles irão receber a tal da "oportunidade". Por isso, aqui em São Gonçalo, praticamente todas as igrejas precisam ter diversos conjuntos: masculino (para se apresentar no congresso de varões), conjunto feminino, de jovens, de adolescentes e de crianças. A coisa é tão séria, que se uma igreja não tiver seus conjuntos, ela é desprezada pelas demais e vista com desconfiança pela comunidade. Ora, aqui em São Gonçalo, igreja sem conjunto não é igreja.

Outro dia, estava conversando com um pastor e ele me contava de seu esgotamento espiritual. Ingenuamente, imaginei que fosse pelo excesso de pregações, ou de aconselhamentos, ou de visitas pastorais, ou mesmo de intercessões a favor dos santos. Mas, não! Ele estava esgotado pelo gerenciamento de inúmeros eventos que sua igreja realizou no último ano. Seu esgotamento não era espiritual, mas simplesmente físico...

Meu conselho para aquele amigo foi lembrá-lo de que nós, como pastores, um dia prestaremos contas ao Senhor não apenas de nossa vida pessoal, mas também de como conduzimos as suas ovelhas. Ele não nos cobrará o número de eventos que realizamos, mas o número de almas que ganhamos e mantivemos em santidade e amor, dando frutos de uma vida regenerada em Cristo, para glória exclusiva do próprio Deus.

Quase choro quando percebo que somente naquele grande Dia, quando os livros se abrirem, é que muitos dar-se-ão conta de que tanto desgaste evangélico, com ensaios e apresentações egocêntricas, não significaram nada. Absolutamente nada! Tudo isto será reduzido a pó e cinzas. Pelo simples fato de que o evangelho de Cristo não tem nada haver com tais espetáculos. Nosso Senhor nunca nos mandou realizar tais coisas, e nem mesmo sombra de tais eventos havia na igreja apostólica, na qual devemos nos espelhar.

Falo com propriedade a respeito do assunto porque já fiz parte deste sistema. Apesar de nunca termos chamado ninguém famoso, nossa igreja mantinha seus conjuntos e grupos de coreografia sempre a postos, a fim de atender aos convites ou se apresentarem nos muitos eventos da casa.

Mas um dia o Senhor me despertou. E, como pastor, precisei decidir entre agradar a Deus, ou aos homens. Ora, para um verdadeiro servo de Cristo obedecer a Deus não é uma decisão difícil. Por causa da minha decisão, alguns membros me abandonaram, outros disseram que eu deveria ter me preocupado mais em como eles se sentiriam, mas "se eu estivesse ainda agradando aos homens, não seria servo de Cristo." Minha preocupação é como o Senhor se sente em relação a sua Igreja, porque um dia prestarei contas de como conduzi suas ovelhas.

Não espere o juízo final para se arrepender de tanto ativismo inútil. Será tarde demais. Acorde agora para o fato de que o que está por trás de tais eventos é o ego decaído, que deseja somente se divertir e aparecer. Ou ainda pior, o que está mesmo por trás é o próprio diabo, desviando a atenção dos crentes daquilo que realmente importa: a fervorosa oração, a genunína Palavra e a compaixão pelas almas perdidas.

Se não acordarmos agora, temo que será realmente tarde demais. Não sobrará nada de sólido e duradouro deste período da igreja, caracterizado somente por tantos e tantos eventos. Porque, biblicamente falando, no fim das contas, e aos olhos de Deus:
evento, é vento.