CONSTANTINO - PAI DO EDIFÍCIO DA IGREJA


Por Frank Viola

A história de Constantino (285-337 d.C.) abre uma página tenebrosa na história da cristandade. Foi ele quem iniciou a construção dos edifícios eclesiásticos. [1] A história é assombrosa.

Quando Constantino entrou em cena, era favorável que os cristãos escapassem de sua condiçãode desprezo e de minoria. A tentação pela aceitação foi por demais forte para resistir e a bola de neve constantiniana começou a rolar.

Em 312 d.C., Constantino tornou-se César do Império Ocidental.[2] Em 324, ele tornou-se Imperador de todo Império Romano. Pouco tempo depois ele começou a ordenar a construção de edifícios de igreja. Ele fez isso para promover a popularidade e a aceitação da cristandade. Se os cristãos tivessem seus próprios edifícios sagrados — como tinham os judeus e os pagãos — a fé cristã seria legitimada no Império.

É importante entender a tática de Constantino — porque ele foi o útero que concebeu o edifício da igreja. O pensamento de Constantino era dominado pela superstição e pela magia pagã. Mesmo após tornar-se Imperador, ele permitiu às velhas instituições pagãs permanecerem como eram antes.

Mesmo após sua conversão ao cristianismo, Constantino nunca abandonou sua adoração ao deus sol. Ele manteve a imagem do sol cunhada na moeda. Ele montou uma estátua do deus sol que sustentava sua própria imagem no Foro de Constantinopla (sua nova capital). Constantino também mandou construir uma estátua da deusa Cibele, (embora apresentada em postura de adoração cristã).

(Historiadores continuam a debater se Constantino foi ou não um genuíno cristão. O fato de ter ordenado a execução de seu filho mais velho, seu sobrinho, e seu cunhado, não fortalece o expediente no que diz respeito à sua conversão. Mas não estamos aqui para levar avante esse tipo de discussão).

Em 321 d.C., Constantino decretou o domingo como dia de descanso — um feriado legal. Parece que a intenção de Constantino era honrar ao deus Mitras, o Sol Invencível. (Constantino descreveu o domingo como “o dia do sol”). Confirmando sua afinidade com a adoração do sol, as escavações de São Pedro de Roma descobriram um mosaico de Cristo como o Sol Invencível.

Praticamente até o dia de sua morte Constantino “agia como um sumo sacerdote pagão”. Na realidade ele detinha o título pagão de Pontifex Máximus, que significa o chefe dos sacerdotes pagãos! (No século XV este mesmo título chegou a ser o título honorífico do Papa Católico).

Constantino usou decorações e rituais tanto pagãos como cristãos na dedicatória de sua nova capital, Constantinopla. Ele utilizou fórmulas de magia pagã para proteger as colheitas e sanar as enfermidades.

Além disso, toda evidência histórica indica que Constantino era egomaníaco. Quando construiu a nova “Igreja dos Apóstolos”, ele erigiu monumentos aos doze Apóstolos, os quais ladeavam um único sepulcro central. Esta tumba Constantino reservou para si mesmo — nomeando-se o décimo terceiro e principal Apóstolo! Constantino não apenas deu continuidade à prática pagã de veneração aos mortos, ele também pretendeu incluir-se no rol desses mortos ilustres!

Constantino também fortaleceu a noção pagã de objetos e espaços sagrados. Devido principalmente à sua influência, o comércio de relíquias passou a ser bem comum na igreja.Pelo século IV, a obsessão pelas relíquias [3] se disseminou de tal forma que alguns cristãos se posicionaram contra essa prática definindo-a como “Uma odiosa observância introduzida nas igrejas sob o disfarce da religião... Uma obra de idólatras”.

Constantino também se destacou por trazer à fé cristã a idéia de “lugar santo” baseado no modelo do santuário pagão. Foi por causa da aura do “sagrado” que os cristãos do século IV anexaram a Palestina, e a tornaram conhecida como “a Terra Santa” no século VI.

O que mais impressiona é que depois de morto Constantino foi declarado “divino”. (Este foi um costume aplicado a todos os Imperadores pagãos que morreram antes dele). Após a morte de Constantino, o Senado proclamou-o deus pagão. E ninguém os impediu de fazer isso.

Neste ponto, uma palavra precisa ser dita acerca de Helena, mãe de Constantino. Essa mulher ficou famosa por sua obsessão com relíquias. Em 326 d.C., Helena fez uma peregrinação à Terra Santa. Em 327 d.C., em Jerusalém, ela declarou ter encontrado a cruz e os pregos utilizados na crucifixão de Jesus. Consta que Constantino promoveu a idéia de que os pedacinhos de madeira da cruz de Cristo possuíam poderes mágicos! A verdade é que uma mentalidade de magia pagã operou no Imperador Constantino. Indiscutivelmente, o pai do edifício da igreja.

O Programa de Construção de Constantino

Depois da viagem de Helena a Jerusalém em 327 d.C., Constantino começou a construir os primeiros edifícios de igrejas ao longo do Império Romano. Ao fazê-lo, ele seguiu a trilha pagã de erigir templos para honrar a Deus.

É interessante o fato dele ter nomeado suas igrejas com nomes de santos — da mesma forma que os pagãos nomeavam seus templos com nomes de seus deuses. Ele construiu suas primeiras igrejas sobre os cemitérios onde os cristãos honravam seus santos mortos. Quer dizer, ele as construiu sobre os restos mortais dos santos mortos. Por quê? Porque, desde pelo menos um século antes os cemitérios onde os santos foram enterrados eram tidos como “campo santo”.

Muitas dessas gigantescas edificações foram construídas sobre as tumbas dos mártires. Essa prática era baseada na idéia de que os mártires tinham o mesmo poder anteriormente atribuído aos deuses pagãos. Mesmo sendo uma prática pagã os cristãos adotaram esta idéia mordendo o anzol.

Os mais famosos “espaços santos” foram: São Pedro, sobre o Monte do Vaticano (erigido em cima da suposta tumba de Pedro); São Paulo, do lado de fora dos muros da cidade (construída em cima da suposta tumba de Paulo); a deslumbrante e magnífica igreja do Santo Sepulcro em Jerusalém (construída em cima da suposta tumba de Cristo), e a igreja da Natividade em Belém (construída sobre a suposta gruta onde Cristo nasceu). Constantino construiu nove igrejas em Roma e muitas outras em Jerusalém, Belém e Constantinopla.

Querido cristão observe! As raízes do “sagrado” edifício da igreja são completamente pagãs. O edifício da igreja foi inventado por um professo ex-pagão dotado de uma mente completamente pagã. Tais edifícios da igreja foram construídos sobre a idéia pagã de que o morto cria um espaço santo. Por favor, lembre-se disto toda vez que você escutar alguém se referir a um edifício como casa “santa” e “sagrada” de Deus.

Explorando os Primeiros Edifícios de igrejas

Pelo fato da edificação ser considerada sagrada, o congregante necessitava passar por um ritual de purificação antes de entrar. Então, no século IV, foram construídos tanques no pátio para que os cristãos pudessem lavar-se antes de entrar no edifício.

Os edifícios de Constantino eram espaçosos, magníficos e tidos como “dignos de um Imperador”. Eram tão esplêndidos que seus contemporâneos pagãos notaram que “estes gigantescos edifícios imitavam” a estrutura dos templos pagãos![4] E isto não era por acaso. Constantino decorava abundantemente os novos edifícios com arte pagã![5]

Os edifícios das igrejas construídas por Constantino eram desenhados exatamente conforme o modelo da basílica. A basílica era o edifício governamental mais comum. Era desenhada segundo o estilo dos templos pagãos.

As basílicas cumpriam mesma função dos auditórios das universidades de hoje. Com assentos extremamente confortáveis para acomodar as pessoas dóceis e passivas que presenciavam os eventos. Esta foi uma das razões pelas quais Constantino escolheu ao modelo da basílica.

Ele também a favoreceu por sua fascinação com a adoração ao sol. As basílicas foram desenhadas de tal maneira que os raios solares caíam sobre o orador enquanto este falava à congregação. Igual aos templos gregos e romanos, as basílicas cristãs foram construídas com a fachada voltada para o leste.

Exploremos a basílica cristã por dentro. Era uma réplica exata da basílica romana usada pelos magistrados e oficiais romanos. As basílicas cristãs possuíam uma plataforma elevada de onde os clérigos ministravam. A plataforma tinha uma elevação com vários degraus. Também havia uma grade que separava o clero dos leigos.[6]

No centro do edifício ficava o altar. Era uma mesa (mesa do altar) ou arca coberta por uma tampa. O altar era considerado o lugar mais santo do edifício por duas razões. Primeiramente, este continha relíquias dos mártires. (Após o século V, a presença de uma relíquia no altar era essencial para a legitimação da igreja). Em segundo lugar, a Eucaristia (o pão e o cálice) estavam sobre o altar.

A Eucaristia, agora vista como um sacrifício sagrado, era oferecida sobre o altar. Por serem considerados como “homens santos”, apenas e tão somente ao clero era permitido receber a Eucaristia dentro do cercado!

Em frente ao altar havia a cadeira do Bispo chamada de cátedra. A expressão ex-cátedra deriva desta cadeira. Ex-cátedra significa “desde o trono”. A cadeira do Bispo, ou “trono” segundo seu nome original, era a maior e mais elegante dentro do edifício. Esta cadeira ficava no lugar da cadeira do juiz da basílica romana. Era rodeada por duas fileiras de cadeiras reservadas para os anciãos.

O sermão era pregado desde a cadeira do Bispo. O poder e a autoridade repousavam nessa cadeira. A cadeira era coberta com um pano feito de linho branco. Os anciãos e diáconos se sentavam em ambos os lados, formando um semicírculo. A distinção hierárquica encravada na arquitetura da basílica era inconfundível.

É interessante que a maioria dos edifícios das igrejas modernas possuem cadeiras especiais para o pastor e seus auxiliares situadas sobre a plataforma atrás do púlpito. Assim como no caso do trono do Bispo, a cadeira do pastor geralmente é a maior! Tudo isso são vestígios da basílica pagã.

Somando-se a tudo isso, Constantino não destruiu templos pagãos em uma larga escala, nem tampouco os fechou. Em alguns lugares os templos pagãos existentes foram esvaziados de seus ídolos e convertidos em edifícios cristãos. Os cristãos usaram materiais das ruínas de templos pagãos e construíram novos edifícios cristãos nesses locais.

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Fonte:
Trecho do livro "Cristianismo Pagão - A Origem das Práticas de Nossa Igreja Moderna" (Frank Viola)

As notas deixadas pelo autor são muito mais extensas do que as que seguem abaixo. Estas foram selecionadas por eu considerá-las mais necessárias à compreensão do texto.

[1] A Historical Approach to Evangelical Worship, p. 103; History of the Christian Church: Volume 3, p. 542. Schaff escreve: “Depois da cristandade ser reconhecida pelo estado e autorizada a ter propriedades, ela erigiu casas de adoração em todas as partes do Império Romano. Provavelmente havia mais edifícios deste tipo no século IV do que houve em qualquer período, talvez com exceção do século XIX nos Estados Unidos...” Veja também To Preach or Not to Preach?, p. 29. Norrington mostra que na medida em que os Bispos dos séculos IV e V cresciam em riqueza, eles canalizaram tais riquezas através de um elaborado programa de construção de igrejas. Everett Ferguson escreve, “Até a era Constantino não encontramos edifícios especialmente construídos, primeiro eram simples salões, depois basílicas constantinas. Antes de Constantino, todas as estruturas usadas para reuniões da igreja eram “casas ou edifícios comerciais modificados para uso da igreja” (Early Christians Speak, p. 74).

[2] No ano 312 d.C., Constantino derrotou o Imperador Maxentius do Ocidente na batalha da Ponte Milviana. Constantino afirmou que na véspera da batalha ele viu um sinal da cruz nos céus e foi convertido a Cristo. (Ken Connolly, The Indestructible Book, Grand Rapids: Baker Books, 1996, pp. 39-40)

[3] Relíquia é um material relacionado aos restos materiais de um santo após a morte dele como também qualquer objeto sagrado que entrou em contato com o corpo dele. A palavra “relíquia” vem da palavra latina reliquere, que significa “deixado para trás”. A primeira evidência da reverência a relíquias surgiu por volta de 156 d.C. no Martyrium Polycarpi. Neste documento, as relíquias de Policarpo são consideradas mais valiosas que pedras preciosas e ouro (The Oxford Dictionary of the Christian Church, Terceira Edição, p. 1379); Father Michael Collins and Matthew A. Price, The Story of Christianity (DK Publishing, 1999), p. 91; The Early Liturgy, pp. 184-187.

[4] Esta frase é do escritor anticristão Porfírio (The Secular Use of Church Buildings, p. 8). Porfírio disse que os cristãos eram inconsistentes porque ao mesmo tempo em que criticavam a adoração pagã erguiam edifícios imitando templos pagãos! (Building God’s House in the Roman World, p. 129).

[5] The Story of Christianity (Gonzalez), p. 122. De acordo com o Professor Harvey Yoder, Constantino construiu a igreja original de Hagia Sophia (a igreja de sabedoria) no local de um templo pagão e importou 427 estátuas pagãs do Império para decorá-la. ("From House Churches to Holy Cathedrals,”. Conferência proferida em Harrisburg, VA, Oct., 1993).

[6] “Ver o edifício da igreja dessa forma significava que este não era mais a casa do povo de Deus para seu culto comum, mas a Casa de Deus que lhes permitia prestar a devida reverência. Eles tinham que entrar na nave (onde a congregação sentava ou permanecia em pé) e se abster de entrar no santuário (a plataforma do clero) que era o lugar do coro ou o santuário reservado para o sacerdócio” (From Temple to Meeting House, p 244; The Growth of Church Institutions, pp. 219-220).

Comentários

Via System disse…
Parabéns pelo texto. É de muita coragem publicar a veradeira história dos templos "cristãos" para um publico que se diz cristão.
Constantino prestava culto a Mitra e apenas o chamou de Jesus. A ceia (eucaristia) é a ceia de Mitra. Já se fazia este ritual antes da última ceia do Senhor.
Ivani Medina disse…
A história do surgimento do cristianismo faz parte da sua doutrina (Atos), não da história propriamente dita. Não se pode considerar o acatamento do Novo Testamento como científico, pois não é. Portanto, essa questão ainda é tratada de forma ideológica. Uns engolem tudo que seja contrário à versão oficial apenas por se contrário.
Por exemplo: discordo que Constantino seja o pai do cristianismo, a despeito da sua participação. Quando ele nasceu o cristianismo contava com mais de século de existência. Constantino conheceu Lactâncio na corte de Diocleciano, na qual o filósofo cristão conspirava abertamente contra o sistema religioso que sustentava a tetrarquia.
Portanto, os cristãos primitivos (possivelmente) nunca pisaram em Jerusalém e pertenciam as classes abastadas. A pátria do cristianismo foi a Ásia Menor e não a Palestina. O Novo Testamento continua a ser um arranjo literário sem confirmações históricas. O motivo do surgimento do cristianismo foi o crescimento do proselitismo judaico nos três primeiros séculos. O cristianismo é o antídoto grego (com o apoio de uns poucos latinos) contra o judaísmo.

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