A ORAÇÃO QUE NOS FAZ CRESCER


Por Alan Capriles

Nós somos aquilo que oramos. Se alguém não ora, é bastante provável que sua vida e crescimento espiritual sejam inexistentes. E se alguém ora erradamente, acaba se tornando algo que não deveria ser, pois, ainda que dê algum fruto, esse será para glorificar a si mesmo e não a Deus. Não seria essa é a raiz do problema em muitas igrejas atuais, onde os crentes já não vivem para glória de Deus? Será que nos esquecemos de como devemos orar?

Por exemplo, se alguém gastar seu tempo de oração pedindo coisas materiais, tal pessoa se tornará cada dia mais egoísta e orgulhosa. E não é verdade que há muitos crentes assim? Ao invés disso, devemos seguir o exemplo de Paulo, o apóstolo, que nada pedia de material em suas orações, as quais são reveladas em algumas de suas cartas. Certamente, ele sabia que um verdadeiro filho de Deus não seria esquecido de seu Pai.

Mas o fato é que nossas orações interferem diretamente em nosso ser. Desde que tive essa compreensão, passei a ser mais cuidadoso nos pedidos que faço ao Senhor e, principalmente, nas motivações que existem por detrás de cada pedido. Passei a considerar seriamente as orientações de Cristo quanto ao assunto, especialmente sua famosa oração, mundialmente conhecida como “Pai nosso”.

Após alguns anos de meditação e prática na oração que o Senhor nos ensinou, conclui que o “Pai nosso”, a despeito de sua popularidade, não é perfeitamente compreendido por muitos cristãos. Mesmo sendo a oração chave para vivermos segundo a vontade de Deus, católicos a repetem como uma reza, sem meditar em suas palavras, e evangélicos parecem desconsiderá-la completamente.  Mas, como um cristão pode ignorar a oração que seu próprio Senhor ensinou? Talvez, porque ainda não compreenda sua importância e poder para o amadurecimento espiritual. Ou, talvez, porque seja mesmo um falso cristão, que chama Jesus de Senhor, mas não pretende seguir os seus ensinamentos.

Antes de tudo, é preciso compreender que o “Pai nosso” não é uma reza, mas um modelo de oração. Jesus mesmo disse “vós orareis deste modo”, ou seja, segundo este modelo – tradução mais correta do texto grego. Neste modelo perfeito, o Senhor enfoca os principais assuntos que devemos considerar junto ao Pai, que são relativos ao que o próprio Jesus mais abordava em seus ensinamentos: o reino de Deus.

Sendo assim, o “Pai nosso” não é mera repetição de palavras, mas um convite a entrarmos e vivermos na verdadeira realidade, ou seja, na presença do Eterno, chamado de reino de Deus. Isso não é de se admirar, pois o reino de Deus, (ou reino dos céus, como Mateus preferiu chamar) foi sempre o tema central das pregações e dos ensinamentos do Senhor. De fato, a pregação do evangelho do reino é um apelo à ponderação (arrependei-vos!) de que já é tempo de mudarmos de atitude (o tempo está cumprido!) a fim de que passemos a viver com uma nova mentalidade, segundo aquilo que Paulo chamou de "a mente de Cristo". Justamente por isso Jesus dizia “o reino de Deus está próximo”, significando que não está distante de quem segui-lo, sendo ele mesmo, Cristo, o Caminho para o reino celestial, que já está acessível aos que nele creem.

Ah, se cada um de nós compreendesse – e vivesse - a mensagem contida na oração do Pai nosso... O mundo seria muito diferente! A começar por muitos crentes, que não seriam mais orgulhosos e materialistas. Mas, para que isso aconteça, é preciso que oremos além da letra, passando a discernir o Espírito da oração que o Senhor nos ensinou. É preciso também orar sem pressa, meditando e ouvindo a voz de Deus em seu coração. Quando isso ocorre, somos verdadeiramente transformados. Essa tem sido a minha própria experiência: uma transformação diária, para a glória de Deus.

Segue-se, portanto, minha humilde tentativa de fazer compreendida a mais bela das orações, o “Pai nosso”. Ao menos, é assim que a compreendo ao recolher-me no secreto da minh'alma: [1]

Pai de toda vida
em cuja presença
quero sempre permanecer

Santificado sejas
como Aquele que É
em cada coração

Venham todos viver
na luz do teu reino

Realizando na Terra
a vontade do teu amor celestial
:
O pão de cada dia 
não seja apenas meu
mas nosso 

O perdão que há em Ti
nos motive a também perdoar
ao nosso semelhante

E não nos deixes cair
em nosso próprio ego
mas livra-nos de toda maldade

Amém.[2]

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Notas:

[1] Alguns leitores talvez não percebam a relação que há entre a oração que escrevi e o conhecido "Pai nosso". Segue-se, portanto, uma explicação para cada estrofe:

Pai nosso / "Pai de toda vida..." - Não somente "meu" Pai. A oração que Jesus nos ensinou abraça toda humanidade e, por que não dizer, todo o ser vivente.

Que estás nos céus / "em cuja presença" - O termo "céus" no ensinamento de Cristo não diz respeito a um lugar e sim a um nível de consciência da presença de Deus, na qual podemos viver, ou não.

Santificado seja o teu nome / "Santificado sejas como Aquele que É" - O nome de Deus é impronunciável, mas o que importa é o seu significado como eterno EU SOU, a perfeita e imutável fonte e sustentação de toda vida. Somente Deus É, todos nós apenas estamos.

Venha a nós o Teu reino / "Venham todos viver na luz do teu reino" - O reino de Deus vem quando nós nos rendemos a Ele, o que significa sair das trevas do egoísmo e vir para a luz do amor de Deus. 

Seja feita a tua vontade assim na terra como no céu / "Realizando na Terra a vontade do teu amor celestial" - A vontade do Pai é simplesmente esta: que nos amemos uns aos outros, no puro amor com o qual Ele nos ama. Desnecessário dizer que Jesus é a maior expressão e exemplo desse amor.

O pão nosso de cada dia nos dai hoje / "O pão de cada dia não seja apenas meu mas nosso" - O próprio Jesus nos ensinou que não devemos nos preocupar com o que comer. Logo, a ênfase aqui não pode ser a preocupação com o que comer, mas certamente é a petição de que sejamos misericordiosos para com o próximo, ou seja, que não nos falte amor para repartir com os necessitados. 

Perdoa-nos assim como perdoamos / "O perdão que há em Ti nos motive a também perdoar ao nosso semelhante" - Ao buscarmos a Deus encontramos o seu perdão, mas ao deixarmos de perdoar nosso próximo nos perdemos da presença de Deus. Onde não há amor, há perdição. Ao compreendemos o amor de Deus por nós tornamo-nos capazes de amar e perdoar a quem quer que seja. "Nós amamos porque Ele nos amou primeiro".

E não nos deixes cair em tentação / "
E não nos deixes cair em nosso próprio ego" - A epístola de Tiago nos lembra que somos tentados por nossa própria cobiça. O egoísmo do ser humano se torna o seu próprio abismo e perdição.

Mas livra-nos do mal / "mas livra-nos de toda maldade" - Não somente a maldade que vem de fora, mas também aquela que pode haver dentro de nós mesmos.

[2] A frase "porque teu é o reino, o poder e a glória, agora e para sempre, amém" não aparece aqui, pois trata-se do acréscimo de algum escriba, não constando nos manuscritos mais antigos do evangelho de Mateus.

Alan Capriles

Comentários

Wendel Bernardes disse…
Alan,
mais uma boa frase....
"Nós somos aquilo que oramos..." Tô levando pra mim... paz!
Alan Capriles disse…
Oi, Wendel!

Desculpe a demora em postar seu comentário, tive que fazer uma pequena viagem. É sempre uma alegria receber sua visita por aqui, e um privilégio pra mim quando você compartilha algo que escrevo. Esteja sempre a vontade em relação a isso. Agradeço pelo incentivo!

Um forte abraço,
na graça e paz de Jesus!
Anônimo disse…
Alan,muito muito linda a oração.Alan me afastei muito de Deus por erros e pecados cometidos no passado já pedi várias vezes perdão para Deus mais tenho dúvidas se ele possa me perdoa e mesmo não consigo e vivo em um remorso e culpa tão grande que me afastei das pessoas e familiares que tanto amo sofro muito. Será que ainda uma esperança para mim ainda?Gostaria de um conselho espiritual seu,obrigada,