Por Alan Capriles
“...recomendando-nos somente que nos lembrássemos dos pobres, o que também me esforcei por fazer.” (Apóstolo Paulo - Gálatas 2:10 RA)
Embora eu não me agrade da maioria dos programas evangélicos da TV, sinto-me na obrigação de assisti-los de vez em quando. Alguns irmãos que pastoreio acompanham esses programas, razão pela qual preciso verificar se neles há algo que possa contaminar o rebanho de Deus. E tenho notado um equívoco grave sendo ensinado em vários desses programas. Como se sabe, a maioria deles tem o mesmo formato: abertura, música, pregação, venda de produtos, pedido de ofertas e oração. Mas, ao contrário do que se poderia esperar, o erro maior não está na pregação, ainda que algumas sejam lamentáveis, mas na forma como se pedem as ofertas para que esses programas se mantenham no ar.
Tornou-se quase unanimidade que os tele-pastores peçam ofertas trocando a palavra “dinheiro” por “semente”. Muitos dizem “semeie no meu ministério”, acrescentando a promessa de uma grande colheita financeira para quem semear mais. E promovem essa ganância usando a Bíblia como respaldo! [1] O texto bíblico mais usado (e abusado) para se pedir ofertas como sementes, encontra-se na segunda carta de Paulo aos Coríntios, onde encontramos o seguinte versículo:
“E isto afirmo: aquele que semeia pouco, pouco também ceifará; e o que semeia com fartura com abundância também ceifará.” (2 Coríntios 9:6 RA)
Sim, de fato, o contexto revela que o apóstolo Paulo está mesmo falando de ofertas e comparando essas ofertas a sementes. Mas, a questão é: por que Paulo usou dessa comparação? A resposta é surpreendente: porque aquelas ofertas eram destinadas aos pobres! Ao contrário dos tele-evangelistas, Paulo não estava pedindo ofertas para o seu ministério. A razão do seu pedido de ofertas era “a favor dos santos” em necessidade (Confira 2 Co 9:1,12). Tratava-se de um apelo para socorrer financeiramente os cristãos pobres da Judéia (Atos 11:29). Sim, porque, ao contrário do que ensina a teologia da prosperidade, os santos também podem ser pobres, materialmente falando (Confira Apocalipse 2:9). [2]
E, a fim de que ninguém duvidasse de suas corretas intenções, o apóstolo cita a seguinte promessa das Escrituras: “Distribuiu, deu aos pobres, a sua justiça permanece para sempre.” (2 Coríntios 9:9 – citando o Salmo 112:9) Como se percebe, a promessa é para quem oferta “aos pobres” e Paulo não deixa dúvidas quanto a isto. Por isso Paulo comparou aquelas ofertas a sementes, porque Deus se compadece de quem ajuda ao pobre. Basta que leiamos o contexto. Paulo poderia também ter acrescentado outros versículos, tais como:
“Bem-aventurado o que acode ao necessitado; o SENHOR o livra no dia do mal. O SENHOR o protege, preserva-lhe a vida e o faz feliz na terra; não o entrega à discrição dos seus inimigos. O SENHOR o assiste no leito da enfermidade; na doença, tu lhe afofas a cama.” (Salmos 41:1-3 RA)
“Quem se compadece do pobre ao SENHOR empresta, e este lhe paga o seu benefício.” (Provérbios 19:17 RA)
“O que semeia a injustiça segará males; e a vara da sua indignação falhará. O generoso será abençoado, porque dá do seu pão ao pobre.” (Provérbios 22:8-9 RA)
Foi com base em promessas assim, de Deus abençoar quem ajuda “ao pobre”, que Paulo comparou tais ofertas a sementes.
Isso é muito diferente de levantar-se ofertas para se manter programas na televisão, cujo minuto é caríssimo e o benefício, duvidoso. E o pior é que a maioria desses programas nem sequer está pregando o verdadeiro evangelho de Cristo! A maioria das pregações da TV é voltada para satisfazer os interesses do homem.
O fato é que o verdadeiro evangelho causa aversão na maioria das pessoas, porque poucos querem se arrepender de seus pecados e passar a viver em Cristo para salvação. Isso é um dilema para os evangelistas da televisão. Como manter seus programas na TV dizendo a verdade para as pessoas, se essa verdade lhes fará trocar de canal? Sendo assim, os tele-evangelistas fazem um tremendo esforço para agradar seus telespectadores, trocando a verdade por palavras agradáveis e acrescentando promessas grandiosas, a fim de aumentar a audiência e o número de fiéis “semeadores”.
Mas, esta é a verdade: quem ajuda a pagar caros programas evangélicos não pode esperar colheita de coisa alguma, a não ser de possíveis escândalos, como se tem visto ultimamente. Quero deixar como exemplo um episódio lamentável. Enquanto outros canais de televisão mostravam o número de uma conta bancária para ajudar os desabrigados das chuvas, que vitimaram milhares de pessoas no estado do Rio de Janeiro, um famoso pastor mostrava o número de três contas bancárias para que “semeassem” no seu ministério. E, detalhe, sementes de mil reais! Quem não tivesse mil reais poderia parcelar sua “semente” em várias prestações, a fim de não perder a fabulosa colheita de bênçãos e ainda ganhar um lindo certificado do seleto “CLUBE DE 1 MILHÃO DE ALMAS”. Ao invés desse pastor aderir à campanha pelas vítimas das chuvas, entre as quais algumas que perderam tudo, ele preferiu pedir dinheiro para bancar suas mega cruzadas. E, ainda que o dinheiro seja gasto nisso, tais cruzadas evangelísticas não atingem nem de longe o alvo a que se propõem. [3]
Respaldo minha afirmativa no depoimento de Billy Graham, maior evangelista do século XX. Após analisar suas inúmeras cruzadas, ele chegou a uma conclusão alarmante. Pelos seus cálculos, dentre todos que assinaram “cartões de decisão” em suas cruzadas, somente três por cento procuraram uma igreja e chegaram a passar pelas águas do batismo. Apenas três por cento!
Sendo assim, se você almeja receber algum benefício do Senhor, uma verdadeira colheita (que não se trata de bênçãos, mas de ser uma bênção) semeie da forma bíblica e correta: não deixe de socorrer o necessitado, se compadeça do pobre, reparta com ele o seu pão (Sl 41:1; Pv 19:17; 22:8). Muitas vezes trata-se de prestar socorro a um irmão que passa necessidade no campo missionário - e, de fato, devemos primeiro ajudar aos domésticos da fé.
E, por falar em missões, lembre-se que a forma de evangelismo mais eficaz que existe é a prática do amor ao próximo. Aliás, essa é a verdadeira semente de Deus o amor.
“Meus filhinhos, não amemos de palavra, nem de língua, mas por obra e em verdade.”
(1 João 3:18 RC)
Notas
[1] Devo confessar que eu mesmo, no passado, fui vítima desta heresia. Por não conferir o contexto, cheguei a ensinar a tal “lei da semente”, erro que, pela misericórida de Deus, não demorei a corrigir.
[2] A respeito da Teologia da Prosperidade confira o seguinte texto, clicando aqui.
[3] Confira o seguinte vídeo (ou texto), a respeito de cruzadas missionárias, clicando aqui.
“...recomendando-nos somente que nos lembrássemos dos pobres, o que também me esforcei por fazer.” (Apóstolo Paulo - Gálatas 2:10 RA)
Embora eu não me agrade da maioria dos programas evangélicos da TV, sinto-me na obrigação de assisti-los de vez em quando. Alguns irmãos que pastoreio acompanham esses programas, razão pela qual preciso verificar se neles há algo que possa contaminar o rebanho de Deus. E tenho notado um equívoco grave sendo ensinado em vários desses programas. Como se sabe, a maioria deles tem o mesmo formato: abertura, música, pregação, venda de produtos, pedido de ofertas e oração. Mas, ao contrário do que se poderia esperar, o erro maior não está na pregação, ainda que algumas sejam lamentáveis, mas na forma como se pedem as ofertas para que esses programas se mantenham no ar.
Tornou-se quase unanimidade que os tele-pastores peçam ofertas trocando a palavra “dinheiro” por “semente”. Muitos dizem “semeie no meu ministério”, acrescentando a promessa de uma grande colheita financeira para quem semear mais. E promovem essa ganância usando a Bíblia como respaldo! [1] O texto bíblico mais usado (e abusado) para se pedir ofertas como sementes, encontra-se na segunda carta de Paulo aos Coríntios, onde encontramos o seguinte versículo:
“E isto afirmo: aquele que semeia pouco, pouco também ceifará; e o que semeia com fartura com abundância também ceifará.” (2 Coríntios 9:6 RA)
Sim, de fato, o contexto revela que o apóstolo Paulo está mesmo falando de ofertas e comparando essas ofertas a sementes. Mas, a questão é: por que Paulo usou dessa comparação? A resposta é surpreendente: porque aquelas ofertas eram destinadas aos pobres! Ao contrário dos tele-evangelistas, Paulo não estava pedindo ofertas para o seu ministério. A razão do seu pedido de ofertas era “a favor dos santos” em necessidade (Confira 2 Co 9:1,12). Tratava-se de um apelo para socorrer financeiramente os cristãos pobres da Judéia (Atos 11:29). Sim, porque, ao contrário do que ensina a teologia da prosperidade, os santos também podem ser pobres, materialmente falando (Confira Apocalipse 2:9). [2]
E, a fim de que ninguém duvidasse de suas corretas intenções, o apóstolo cita a seguinte promessa das Escrituras: “Distribuiu, deu aos pobres, a sua justiça permanece para sempre.” (2 Coríntios 9:9 – citando o Salmo 112:9) Como se percebe, a promessa é para quem oferta “aos pobres” e Paulo não deixa dúvidas quanto a isto. Por isso Paulo comparou aquelas ofertas a sementes, porque Deus se compadece de quem ajuda ao pobre. Basta que leiamos o contexto. Paulo poderia também ter acrescentado outros versículos, tais como:
“Bem-aventurado o que acode ao necessitado; o SENHOR o livra no dia do mal. O SENHOR o protege, preserva-lhe a vida e o faz feliz na terra; não o entrega à discrição dos seus inimigos. O SENHOR o assiste no leito da enfermidade; na doença, tu lhe afofas a cama.” (Salmos 41:1-3 RA)
“Quem se compadece do pobre ao SENHOR empresta, e este lhe paga o seu benefício.” (Provérbios 19:17 RA)
“O que semeia a injustiça segará males; e a vara da sua indignação falhará. O generoso será abençoado, porque dá do seu pão ao pobre.” (Provérbios 22:8-9 RA)
Foi com base em promessas assim, de Deus abençoar quem ajuda “ao pobre”, que Paulo comparou tais ofertas a sementes.
Isso é muito diferente de levantar-se ofertas para se manter programas na televisão, cujo minuto é caríssimo e o benefício, duvidoso. E o pior é que a maioria desses programas nem sequer está pregando o verdadeiro evangelho de Cristo! A maioria das pregações da TV é voltada para satisfazer os interesses do homem.
O fato é que o verdadeiro evangelho causa aversão na maioria das pessoas, porque poucos querem se arrepender de seus pecados e passar a viver em Cristo para salvação. Isso é um dilema para os evangelistas da televisão. Como manter seus programas na TV dizendo a verdade para as pessoas, se essa verdade lhes fará trocar de canal? Sendo assim, os tele-evangelistas fazem um tremendo esforço para agradar seus telespectadores, trocando a verdade por palavras agradáveis e acrescentando promessas grandiosas, a fim de aumentar a audiência e o número de fiéis “semeadores”.
Mas, esta é a verdade: quem ajuda a pagar caros programas evangélicos não pode esperar colheita de coisa alguma, a não ser de possíveis escândalos, como se tem visto ultimamente. Quero deixar como exemplo um episódio lamentável. Enquanto outros canais de televisão mostravam o número de uma conta bancária para ajudar os desabrigados das chuvas, que vitimaram milhares de pessoas no estado do Rio de Janeiro, um famoso pastor mostrava o número de três contas bancárias para que “semeassem” no seu ministério. E, detalhe, sementes de mil reais! Quem não tivesse mil reais poderia parcelar sua “semente” em várias prestações, a fim de não perder a fabulosa colheita de bênçãos e ainda ganhar um lindo certificado do seleto “CLUBE DE 1 MILHÃO DE ALMAS”. Ao invés desse pastor aderir à campanha pelas vítimas das chuvas, entre as quais algumas que perderam tudo, ele preferiu pedir dinheiro para bancar suas mega cruzadas. E, ainda que o dinheiro seja gasto nisso, tais cruzadas evangelísticas não atingem nem de longe o alvo a que se propõem. [3]
Respaldo minha afirmativa no depoimento de Billy Graham, maior evangelista do século XX. Após analisar suas inúmeras cruzadas, ele chegou a uma conclusão alarmante. Pelos seus cálculos, dentre todos que assinaram “cartões de decisão” em suas cruzadas, somente três por cento procuraram uma igreja e chegaram a passar pelas águas do batismo. Apenas três por cento!
Sendo assim, se você almeja receber algum benefício do Senhor, uma verdadeira colheita (que não se trata de bênçãos, mas de ser uma bênção) semeie da forma bíblica e correta: não deixe de socorrer o necessitado, se compadeça do pobre, reparta com ele o seu pão (Sl 41:1; Pv 19:17; 22:8). Muitas vezes trata-se de prestar socorro a um irmão que passa necessidade no campo missionário - e, de fato, devemos primeiro ajudar aos domésticos da fé.
E, por falar em missões, lembre-se que a forma de evangelismo mais eficaz que existe é a prática do amor ao próximo. Aliás, essa é a verdadeira semente de Deus o amor.
“Meus filhinhos, não amemos de palavra, nem de língua, mas por obra e em verdade.”
(1 João 3:18 RC)
Notas
[1] Devo confessar que eu mesmo, no passado, fui vítima desta heresia. Por não conferir o contexto, cheguei a ensinar a tal “lei da semente”, erro que, pela misericórida de Deus, não demorei a corrigir.
[2] A respeito da Teologia da Prosperidade confira o seguinte texto, clicando aqui.
[3] Confira o seguinte vídeo (ou texto), a respeito de cruzadas missionárias, clicando aqui.
Comentários
Que a paz do Senhor Jesus Cristo; esteja sobre ti, sobre a tua família e o teu ministério.
Concordo plenamento com o irmão, e sou totalmente contra a essa exploração da fé. "Será que voltamos as velhas indulgencias"? Como o amado tem notificado no seu blog, precisamos urgentimente de uma verdadeira reforma; porem não só teologica, mas no carater de muitos homens que se diz, de Deus.
Deus te abençoe em nome de Jesus............
http://www.youtube.com/watch?v=GqeJE_Pt-Eo
Brilhante colocação do presbítero Fábio: mais do que uma reforma teológica, muitos evangélicos precisam de uma reforma no caráter. Estou meditando muito sobre isto.
Quanto aos vídeos indicados pelo irmão Francisco, são excelentes. Estou adicionando no meu youtube. Agraceço muito pela dica.
Deus lhes abençoe cada dia mais!
jas_alan21@yahoo.com.br
De fato em minha comunidade as sementes são tamebem lançadas a torto e direito. Mas tenho sido lá uma voz dissonante que vai contra esta teologia da prosperidade que contamina e mata a fé das pessoas.
você podia trazer algo pra gente, pense nisso vai!
paz querido! desculpa falar demais aqui ta? xauuuu